Cofundadora das Missionárias Agostinianas Recoletas, esta monja de clausura oriunda de La Zubia (Granada) em 1905 chegou à China aos 26 anos, atendendo a um chamado que transformaria para sempre sua vida e sua vocação. A este chamado dedicamos a primeira parte do relato.
“, irmã Maria Ângelis de São Rafael, com vinte e cinco anos de idade, me ofereço como voluntária para ir à missão na China, se esta for a vontade de Deus”.
Esta foi a resposta por escrito de Ângelis (1905-1980), monja contemplativa, no mosteiro de Corpus Christi das Agostinianas Recoletas em Granada, em reposta à solicitação de Francisco Xavier Ochoa, agostiniano recoleto, então prefeito apostólico na missão de Kweiteh (Shangqiu, Henan, China), que percorria os conventos de clausura da Espanha buscando voluntárias para a missão.
Duas monjas do mosteiro granadino (Ângelis e Carmela Ruiz) e uma do mosteiro madrilense da Encarnação (Esperança Ayerbe), por seu ardor missionário, trocam a vida de clausura pela ação missionária e, em 1931, partem para Shangqiu, na remota China.
As três, com monsenhor Francisco Xavier Ochoa, o bispo que decidiu pedir voluntárias nos mosteiros de clausura dadas as urgentes necessidades que tinha em sua missão para a assistência de meninas abandonadas e para a implantação da vida religiosa feminina, fundaram o que, com os anos, se tornaria a Congregação das Missionárias Agostinianas Recoletas.
Irmã Ângelis escreveu um diário em que relata muitos detalhes de sua vida e adversidades, sobretudo os acontecimentos na China. O título que recebeu ao ser publicado é: Uma missionária agostiniana recoleta na China, Diário de Madre Ângelis. Ao longo de suas páginas, revela também algumas características de sua personalidade, de seu pensamento e espiritualidade.
O historiador agostiniano recoleto Ângelo Martínez Cuesta publicou uma resenha do livro na revista Recollectio. Ele disse então:
“[Neste diário] o leitor encontrará uma alma viva, exigente consigo mesma, a quem o diálogo contínuo com Deus mantém em perpétua tensão; uma alma que tudo subordina à vontade de Deus e tudo julga à luz que dela emana.
Encontrará, é verdade, opiniões ingênuas, próprios de uma pessoa desprovida de formação acadêmica ou filha de um ambiente social, cultural e teologicamente pouco evoluído. Porém, são poucos, e ainda assim, esses estão iluminados por uma extraordinária sensibilidade humana, por uma delicadeza espiritual extraordinária, por uma espontaneidade e graça inatas e por um profundo sentido de observação.
Todo o livro está impregnado de anseios missionários. O amor às almas lança a madre Ângelis para fora da clausura em 1931, faz dela feliz em meio a inúmeras dificuldades durante os 17 anos vividos no campo da missão e culmina no longuíssimo último ano descrito neste livro.
A saída da China é o maior sacrifício de sua vida. Ela própria o afirma em várias ocasiões. Porém, não era necessário. Desde que abandonou Kweiteh em fevereiro de 1948, um halo de tristeza envolveu toda sua vida. Ela desejava trabalhar e morrer na linha de frente. Fora da linha de frente, passou a sentir-se pobre chinesa desterrada que não encontrava consolo nem no retorno à pátria, apesar da exaltação patriótica do momento, que ela compartilhava por completo; nem no reencontro com suas “irmãzinhas” de Granada; e nem mesmo no abraço de sua idosa mãe.
Somente em seu grande apreço pela obediência encontra alívio e forças para enfrentar tão grandioso sacrifício. Surge assim outra característica de sua espiritualidade, que, por sua vez, era muito própria da espiritualidade religiosa da época.
Também, cabe mencionar seu amor filial à Igreja, sua laboriosidade, seu espírito generoso e agradecido e a capacidade de transfigurar e espiritualizar as mais diversas experiências da vida. (…) Qualquer acontecimento desencadeava sua imaginação e a conduzia placidamente à contemplação de Deus e de seus atributos ou ao desfrute antecipado das maravilhas do céu”.
Ângelis no mosteiro de Corpus Christi
A paz e a alegria são os frutos que Deus concede a Ângelis durante sua vida no mosteiro contemplativo até o momento inesperado em que Deus irrompe em sua vida com uma proposta impensável para ela, vinda de outro mediador, monsenhor Ochoa. Ângelis relata da seguinte forma:
“Na paz e alegria que naturalmente brotam da união dos corações e das vontades, vivíamos todas naquele nosso adorado claustro, quando veio nos surpreender com sua visita, e com ela a romper por alguns dias a monotonia da vida monástica, um irmão nosso, missionário da China, nosso fervorosíssimo e decidido reverendo Padre Xavier Ochoa”.
Em uma região remota da Igreja, são necessárias irmãs corajosas e determinadas, almas grandiosas e generosas, movidas por um profundo ardor missionário. O que terá sentido Ângelis diante de um convite tão desafiador?
Quando todas estavam reunidas e sentadas no locutório, a Madre Priora nos dirigiu as seguintes palavras:
— ‘Temos aqui nosso irmão o reverendíssimo Padre Prefeito Apostólico de Kweiteh-fu, China, que vem a este nosso convento com uma especial missão.’
Com sua habitual elegância e amabilidade, interrompeu educadamente a apresentação que a Madre fazia de sua pessoa e começou a dizer:
— ‘Irmãs, a missão que me traz a esta santa Casa é, de fato, grandiosa. Trata-se nada menos do que buscar e encontrar aqui almas verdadeiramente nobres e generosas, com ardor missionário. Irmãs corajosas e decididas, que fixem seu olhar unicamente em Deus e na salvação dos povos não cristãos, e que estejam dispostas a vir comigo à China para compartilhar com seus irmãos tanto o trabalho quanto os frutos; as dores e o alívio da cura, que sempre acompanham a vida missionária. Para esse propósito, escrevi duas cartas à Reverenda Madre Priora no último mês de novembro, e visitei o Convento da Encarnação, em Madri, onde já me garantiram o apoio de uma religiosa daquela comunidade.’
— ‘Pois, aqui encontrará quantas quiser’, responderam em coro várias irmãs”.
O ambiente missionário do mosteiro não poderia ser mais propício. A madre priora, alma muito santa e dinâmica, entusiasmava suas irmãs após ter-se oferecido ela mesma para a missão. A partir daquele momento, ela mesma seria a encarregada de animá-las e dar-lhes coragem àquelas que quisessem oferecer-se como voluntárias.
“Entusiasmado com a espontânea e generosa disposição das irmãs, Monsenhor Ochoa começou a organizar seus materiais para nos apresentar ali mesmo uma série de projeções missionárias. A impressão deixada pela alocução do Padre Prefeito foi indescritível, e a pequena semente missionária que ele acabara de semear parecia já germinar e crescer no coração de todas”.
A disponibilidade missionária que se percebe no mosteiro granadino se deve, em parte, ao grande impulso missionário que o Papa Pio XI deu à Igreja nesses anos. Contudo, Ângelis começou a sentir-se não merecedora da felicidade de ser missionária “na linha de frente”.
Pensou que, devido à sua profunda fragilidade, Deus nunca a chamaria para uma missão tão grandiosa. Por isso, decide oferecer sua vida no claustro pelos missionários. Aqui começa o processo de luta interior que irá viver durante estes intermináveis dias.
“Eu estava muito tranquila, pois ser missionária, como geralmente se entende, me parecia quase impossível; uma felicidade grandiosa demais para mim, considerando minha profunda fragilidade. Contudo, decidi, a partir daquele dia, oferecer todos os meus sofrimentos, tanto físicos quanto morais, em favor dos missionários mais solitários, aqueles que mais tristezas sentissem nas distantes solidões da missão na China”.
Entretanto, seus sentimentos a alertavam de que havia ‘algo’ prestes a mudar sua vida.
“Apesar de tudo, devo confessar que começava a sentir dentro de mim algo que me atraía e entusiasmava. Estava nesse estado quando uma aclamação espontânea e unânime me trouxe de volta à realidade. Isso ocorreu porque Monsenhor Ochoa anunciou o início das encantadoras projeções missionárias”.
A missão foi adentrando, pouco a pouco, em seus olhos e em seu coração. No entanto, por não se sentir possuidora das qualidades necessárias para ir à China, conformou-se interiormente em ser missionária a partir da clausura:
“Apareceram na tela todos os nossos missionários recoletos, seguidos por uma variedade de chineses: homens, mulheres e crianças de todas as idades, vestindo roupas adequadas às diferentes estações do ano.
Na verdade, pareciam-me seres de outro mundo, mas, desde o primeiro momento, os observei com profundo carinho e grande compaixão. Ofereci por eles os frutos de minhas orações e sacrifícios, já que não conseguia me convencer de que um dia pudesse trabalhar entre eles.
Sentia que não possuía nenhuma das qualidades admiráveis que, segundo o Reverendíssimo Padre Prefeito, eram necessárias para quem fosse à China; além disso, vivia muito feliz em meu convento, rodeada de minhas boas irmãs. Eu desejava ardentemente ser missionária, mas a partir do meu convento, assim como Santa Teresinha fez em sua jornada espiritual”.
Pareceria que aqui irrompia a graça de Deus com uma força desconhecida. O que até então se havia dado naturalmente, já que desde criança havia vivido a vida de Deus, agora a surpreende de tal forma que transtorna toda a sua existência. O que sempre fora paz e tranquilidade, livre de dúvidas e de novidades, agora se apresenta como um pensamento persistente que ela gostaria de afastar para fazê-lo desaparecer:
“Naquele dia, iniciou-se para mim uma luta silenciosa e aterradora. Apesar de todos os meus esforços para ocultar o que se passava em meu interior, minhas queridas irmãs percebiam que eu perdia o apetite, a cor e a alegria.
Já não me envolvia em conversas durante os recreios, e um único pensamento dominava minha vida, que até então era tranquila e repleta de felicidade, livre de dúvidas e de qualquer desejo que não fosse viver plenamente minha vida como Agostiniana Recoleta, por mais curta ou longa que fosse, entre as benditas paredes da minha prisão voluntária.
Perto do Natal de 1930, sentia uma necessidade urgente de dissipar aquele pensamento perturbador que, embora não me impelisse a tomar uma decisão, também não me deixava viver em paz”.
A dúvida começou a invadir o coração de Ângelis, que até então se sentia tão segura dentro daquele mosteiro de clausura que chamava de “prisão voluntária”. O que Deus queria dela? Como poderia descobrir sua vontade? Como ter certeza de que tal ou qual caminho era, de fato, a vontade divina?
“O desejo de ir à China e ser missionária me deixava inquieta, mas como saber se Deus realmente me queria lá? Se me deixasse levar por esse desejo, não acabaria arrependida quando as dificuldades, os sofrimentos e as decepções da vida missionária pesassem sobre minha alma e meu corpo, abandonando o amargo sentimento de ‘foi você quem se colocou nessa situação’?”
Diante desse pensamento, esforçava-me para renunciar ao desejo de ir para o campo, agarrando-me firmemente à minha vida de clausura, onde já me sentia feliz e certa de que Deus me havia chamado. Contudo, a ideia de aventurar-me em uma região desconhecida e ter que aprender um dos idiomas mais difíceis do mundo me aterrorizava…
— Não, não! — dizia a mim mesma — Aqui, até a minha morte. Serei missionária oculta, trabalharei…
Parecia que essa convicção me proporcionava uma paz momentânea; no entanto, era a mesma paz que um enfermo consumido pela febre experimenta ao encontrar uma posição confortável, apenas para abandoná-la em poucos minutos, quando a dor se torna insuportável. O mesmo ocorria com minha alma, fatigada pela batalha interna”.
Sua vida, da manhã à noite, se enchia de incertezas, dúvidas e perguntas sem resposta. Onde estavam as orientações que Deus sempre havia colocado no seu caminho? Tanta incerteza repercutia em todo seu ser, e a paz parecia não ter lugar em sua vida.
“Minha alma se preenchia de incerteza. Perguntava ao confessor, à minha ex-madre mestra e às madres idosas. A resposta que recebia, repetida e reconfortante, era sempre a mesma: ‘Faça, minha filha, o que Deus lhe inspirar’. E assim, essas palavras se tornavam um mantra em meus eternos dias de dúvida…
Sentia-me doente e até houve momentos em que me lamentava por haver visto o filme que refletia aquele rosto divino, aqueles olhos suplicantes que, em meus momentos de ofuscação, não conseguia afastar da minha memória nem da retina dos meus olhos…
No final de dezembro, recebi uma carta de dom Ochoa perguntando quantas se ofereciam como voluntárias e pedindo todos os dados para poder propor os nomes à Sagrada Congregação”.
Passaram-se 20 dias de angustiosa busca pela vontade de Deus. Chegou o momento de tomar uma decisão: oferecer-se ou não para ir à Missão da China. Sua Mãe da Consolação estava lá, acompanhando-a.
“Era o dia 28 de janeiro de 1931. Ao chegar ao coro, meu primeiro olhar se voltou para minha doce Mãe da Consolação, em direção à qual senti um amor profundo, semelhante ao de uma filha que pressente a perda de uma Mãe…
Ajoelhei-me em meu lugar de costume, com a alma cheia de expectativa pela meditação, mas, por mais que me esforçasse, meus pensamentos não encontravam repouso. ‘Hoje darei’, dizia a mim mesma, ‘o último passo que me levará à China ou me deixará em meu convento em paz”.
Naquele dia, como se fosse a primeira vez, durante a Eucaristia, ofereci-me ao Senhor, pedindo-lhe que fizesse de mim o que desejasse:
“Chegou a hora de ouvir a Santa Missa. No ofertório, entreguei-me ao Senhor, implorando que manifestasse sua vontade ao aceitar ou rejeitar a oferta que, com toda a força da minha alma, eu escreveria em um papel”.
Ângelis se sentia presa no meio de uma batalha entre dois amores, ambos puros e nobres. Sua vida assemelhava-se a um barquinho balançando entre as ondas de um mar agitado, e seu corpo participava ativamente dessa luta.
“Às quatro da tarde, tornou-se insuportável conviver com essa batalha interna. O amor pelo convento e por minhas boas irmãs se enfrentava ao amor pela Missão, travando uma guerra sem trégua. Senti-me como um pequeno barquinho agitado pelas fortes ondas de um mar agitado…
Quanto sofri, Deus meu!
Fui ao coro visitar o Senhor, a fim de lhe contar o que ia escrever, mas saí tão perturbada que, segundo uma irmã, parecia um cadáver ambulante…
Ao chegar à minha pequena cela, não sabia se sentava ou me colocava de joelhos; escolhi a última opção. Um grande tremor apoderou-se do meu corpo, e uma luta ainda mais feroz se instalou em minha alma. ‘Não, não sairei de meu convento’, dizia a mim mesma, enquanto deixava a caneta de lado… Que momento!”.
Finalmente, surge a mediação, tão característica da sua relação com Deus, seu ‘bom anjo’, como Ângelis dirá várias vezes. Desta vez, são as palavras de um sacerdote, encontradas em um livro, que trazem a confiança que ela tanto necessitava. Assim, o mar de sua alma se acalma e, com essa entrega confiante, a paz finalmente se faz presente.
“Por sorte, sobre a mesinha, estava o precioso livro do Padre Valencina, intitulado Cartas a Sor Margarita. Abri-o e meus olhos se depararam com estas palavras: “Desconhecemos os desígnios que Deus almejou ao nos guiar para a Religião.” (ou algo assim).
Um raio de luz atravessou minha mente. Se não te ofereceres, sempre sentirás o remorso de não o ter feito; e se te oferece e não te chamam, terás o mérito de ter te oferecido e sempre estarás tranquila.
Foi (nunca duvidei) meu Bom Anjo quem me trouxe esse pensamento. Já não hesitei mais. De joelhos, enquanto lançava um olhar à Doce Mãe do céu, escrevi:
— Eu, Sor Maria Ângelis de São Rafael, com a idade de vinte e cinco anos, me ofereço voluntariamente para ir à Missão da China, se essa for a Vontade de Deus.
Corri apressadamente da cela para entregar à Madre o papel com minha oferta. Em seguida, dirigi-me ao coro.
— Senhor, disse, já está feito: agora Tu tens a palavra. A Ti me entrego de coração.”.
Havia chegado o momento do Senhor. Ela já havia dado sua resposta, entregando-se completamente ao seu coração. Após tanta luta interna, finalmente encontrou a alegria, o alívio, a tranquilidade e a felicidade. Voltou a ser a de antes…
“Ainda posso sentir o alívio e a alegria que inundaram minha alma cansada de lutar. Naquela noite, realmente me recompus durante o recreio. Minhas irmãs, especialmente minha Santa Madre Mestra, se alegravam ao me ver ‘como antes’. Que tranquilidade trouxe meu sono, e tudo parecia tão claro no dia seguinte… Novamente, sentia-me feliz e pronta para semear alegria ao meu redor”.
Chegou, prontamente, a resposta ao seu oferecimento como voluntária. No dia seguinte, a Madre Priora trouxe a resposta do Senhor à sua oferta:
“Tudo ficou em silêncio até o dia 29 de janeiro de 1931. Terminada a oração e as Horas antes da Santa Missa, ouvi a voz quase imperceptível da nossa santa Madre Ângelis chamando-me.
Ao me ajoelhar para ouvir, ela disse:
— ‘Irmã Maria Ângelis, sua Caridade foi uma das escolhidas para ir à China.’
— ‘Bendito seja Deus’, respondi, abraçando-a respeitosamente, tomada por uma impressão que invadiu todo o meu ser…
Não sabia nem onde estava. Como se estivesse em transe, fui para o meu lugar”.
Novamente, a mediação apareceu para dissipar seus temores. Daquela vez, era sua companheira de missão, a querida amiga Sor Carmela, a sua “irmãzinha da alma” como Ângelis a chamava, e quem a acompanharia à China.
“Lembro que apenas um pensamento me preocupava: quem seria minha companhia, já que não podia voltar atrás? Fechando os olhos e afastando medos infantis, disse do íntimo da alma:
— ‘Aquela que quiserdes, Senhor.’
Poucos segundos depois, ouvi a Madre chamar Sor Carmela… Que alegria! Seria ela minha companheira? Não quis acreditar até que minha querida irmã se ajoelhou perto de mim e, apertando sua mão trêmula na minha, me disse, um tanto inquieta:
— Irmã Maria Ângelis, eu vou para a China.
— E eu também, respondi, aproximando-me mais dela, como que significando o íntimo entrelaçar de nossas almas.
— Ofereceremos hoje a Missa e a Comunhão pelo Papa.
Também e, sem precisar dizer nada, oferecemos a santa comunhão uma pela outra”.
Carmela, desde o momento em que chegou ao mosteiro, tornou-se um verdadeiro tesouro para Ângelis. Essa amizade sincera foi um dos maiores presentes de Deus para ambas.
“Sim, naquele dia roguei de modo especial por minha irmãzinha da alma, Sor Carmela, por esta irmã e companheira da qual posso afirmar, com toda a sinceridade, que, desde que a vi entrar no claustro, encontrei nela ‘um grande tesouro’.
Juntas, rezávamos e cantávamos todas as noites diante da adorável e devotadíssima imagem de nossa Doce Mãe no Mistério de sua Assunção gloriosa. A seus pés benditos, formulávamos nossos melhores propósitos de sermos a cada dia melhores, de vencermos, de lutar até conseguir a vitória celeste…
Esta amizade era abençoada pela obediência. A Madre Priora nos concedia tempo todos os domingos e dias de festa para cuidarmos das questões de nossas almas. É verdade que minha irmã Carmela, longe de ser um obstáculo aos meus desejos de perfeição, tem sido meu apoio e minha alegria no caminho às vezes áspero da vida. Bendita amizade que traz tanta paz à minha alma”.
Era verdadeiramente livre para ir à China? A decisão que tomara diante da convocação divina partira de sua liberdade? Seu pai a confronta com uma pergunta importante para seu futuro. Ângelis sabia que Deus nunca lhe impôs nada; sempre a convidou, a atraiu, questionou, mas jamais atropelou sua liberdade humana.
“Meu paizinho me chamou para perguntar se minha saída do convento e minha ida para a China eram completamente livres. Respondi que, voluntariamente, me havia oferecido, acreditando que ao fazê-lo cumpria a vontade de Deus. Então ele disse: ‘Viverei tranquilo.’ Ele me deu dinheiro para comprar o que quisesse e me abraçou, seus olhos estavam cheios de lágrimas. Que momento, Deus meu!”.