De 19 a 22 de agosto, as 58 Igrejas locais da Amazônia legal brasileira se reuniram sob o tema “A Igreja que se fez carne, alarga sua tenda na Amazônia: memória e esperança”. Bispos recoletos estiveram presentes.
Organizado pela Comissão Especial para a Amazônia da Conferência de Bispos do Brasil (CNBB) e pela Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), o V Encontro da Igreja na Amazônia aconteceu no Centro Diocesano de Formação da Maromba, em Manaus (Amazonas, Brasil) e contou com um total de 80 participantes, entre eles os bispos agostinianos recoletos Santiago Sánchez (Lábrea, Amazonas), Jesús María López Mauleón (Alto Xingu-Tucumã, Pará) e Jesús Moraza (emérito).
Participaram das sessões e encontros dois cardeais, 60 bispos, religiosos e religiosas, leigos corresponsáveis por diversos ministérios eclesiais e líderes ribeirinhos e indígenas. Incluiu observadores convidados do Governo Federal do Brasil.
A maior parte do V Encontro estudou a situação das linhas prioritárias previamente marcadas: fortalecimento das Comunidades Eclesiais de Base, Ministérios, participação das mulheres, formação, defesa dos povos ribeirinhos e originários, cuidado da Casa Comum e evangelização dos jovens.
Ricardo Hoepers, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB presidiu a abertura, incentivando os presentes a ter empatia com as necessidades dos outros pastores e a evitar a tentação do clericalismo, do tradicionalismo e de qualquer mentalidade egoísta que feche o diálogo e o avanço.
A Igreja na Amazônia procura ser um farol de esperança, um instrumento de transformação social, um promotor da dignidade humana, da paz e da integridade da Criação. Para isso, estabeleceu seis eixos de compromisso, tarefa e reforço: formação, ministérios, mulheres, casa comum, sustentabilidade, caridade e profecia.
Entre as dificuldades apontadas pelos pastores está o desafio de muitos de seus seminaristas serem formados fora da região, desconectados das necessidades locais. São precisos formadores que, bem formados, possam atuar na região.
Para melhorar a participação das mulheres, foi proposto que os Conselhos não sejam apenas consultivos, aumentando a sinodalidade na tomada de decisões; que os ministérios não permaneçam na estrutura eclesiástica, mas que a sua ação alcance também a política, a cultura ou a ecologia;
A Igreja Amazônica quer se organizar para arrecadar recursos, promover a economia solidária e a ecologia integral, com gestão transparente e reforço de ações em direitos humanos, justiça e paz.
Antes do Encontro foram feitos estudos sobre o que foi feito em cada uma das Igrejas locais e foram feitas perguntas para estabelecer a real situação eclesial, bem como se propunha avançar em questões como o rito amazônico.
O Cardeal Arcebispo de Manaus, Leonardo Steiner, indicou a necessidade de anunciar sempre o Reino de Deus para que chegue a todos em toda a sua plenitude, com toda disponibilidade, generosidade e dedicação por parte dos católicos, tendo seus pastores na linha de frente. E lembrou a importância de priorizar “os pequenos de Deus” nesta ação.
A Amazônia é a região brasileira com maior mobilidade humana, tanto nacional quanto internacionalmente. A sua sociedade é demasiado marcada pela violência e pela violação dos direitos humanos, com grupos especializados no contrabando de drogas, de madeira, de minerais, assim como no tráfico de seres humanos e na exploração laboral.
Uma das preocupações da Igreja é o enorme aumento de migrantes sem documentação legal no Brasil e sem atenção das autoridades públicas. Eles carregam um grande sofrimento pessoal. Propõe-se especial atenção à Igreja na luta contra a xenofobia e a aporofobia, que começam a ter uma presença alarmante na sociedade.
Como região de fronteira, a Amazônia tem grandes desafios. Essa condição acarreta conflitos: crime organizado, garimpo ilegal, agronegócio descontrolado e com o lucro como único critério. São realidades chocantes e terríveis: poluição, violência, queimadas, tráfico de mulheres, escravidão… Os dados gritam: as estatísticas dizem que no ano de 2023 um menor foi vítima de estupro a cada 8 minutos na Amazônia.