HIstoria de la Provincia de San Nicolás de Tolentino de la Orden de Agustinos.
1. A crise conciliar
O Concílio Vaticano II, realizado em Roma de 11 de outubro de 1962 a 8 de dezembro de 1965, é sem dúvida o evento central da Igreja no século XX.
Acima de tudo, o concílio expressou visivelmente a natureza íntima da Igreja e sua missão no mundo. Ele pede aos religiosos que examinem suas vidas à luz do Evangelho; que considerem a inspiração que levou à sua fundação e as exigências da sociedade moderna.
Iniciou-se em 1968 um novo período na história da Ordem e na Província de São Nicolau de Tolentino, com o Capítulo Geral Extraordinário que traduziu as diretrizes do Concílio em um novo texto constitucional.
Durante este tempo, a esperança e o desalento se alternaram. Foram anos de protestos, de desconfiança perante a lei e de cantos de liberdade, tempos de crise que atingiram algumas províncias, como a de Santo Agostinho, já nos anos 60: entre 1968 e 1974, o número de religiosos caiu de 115 para 82.
A Província de São Nicolau, no entanto, começou a experimentar esta crise duas décadas mais tarde. Em 1991, seus membros eram 457, apenas sete a menos que em 1970.
2. Vida de comunidade
Talvez o principal fruto da renovação conciliar e do retorno a Santo Agostinho seja a preocupação com a vida comunitária. O desaparecimento legal dos privilégios, com um conhecimento mais preciso do ideal monástico de Santo Agostinho, da visão da Igreja como Povo de Deus e da revalorização da pessoa, colocaram o tema das relações fraternas no centro da atenção dos Agostinianos Recoletos.
No caso da Província de São Nicolau, isto foi favorecido pelo fato de que todos os seus religiosos viveram as últimas etapas de formação nos mesmos centros, Monteagudo e Marcilla, ambos em Navarra, Espanha.
Estes dois conventos se tornaram um verdadeiro mosaico de culturas em que as novas gerações convivem, se conhecem e se apreciam mutuamente, e não somente eles: muitos outros recoletos de outras Províncias da Ordem são formados ali em um mesmo espírito.
Em Marcilla, especialmente, foram formados quase todos aqueles que deram consistência à Província de Santo Ezequiel Moreno, quando esta Província se separa da província de São Nicolau, em 1998.
Não se trata apenas da formação inicial. Também é dada ênfase à formação permanente em diferentes níveis: comunitário, intercomunitário e interprovincial. São organizados periodicamente cursos de renovação, semanas de espiritualidade, meses de preparação para a profissão solene…
O fruto de tudo isso é, sem dúvida, um melhor conhecimento do próprio carisma, e um maior sentido de família na Província e na Ordem.
A era digital ainda não havia aparecido, mas o serviço que os boletins informativos internos, distribuídos em todas as comunidades, prestaram à vida comunitária foi bem significativo: OAR al habla para a Província de São Nicolau (1970), e Newsletter (1969) e The Seekers (1976) na Província de Santo Agostinho.
Outro fator que fortalece a identidade provincial e da Ordem é a elevação à honra dos altares de um grupo de religiosos: Santo Ezequiel Moreno, beatificado em 1975 e canonizado em 1992; os mártires do Japão Melchor de Santo Agostinho e Martim de São Nicolau, beatificados em 1989; os mártires de Motril, beatificados em 1999, vários deles formados na Província de São Nicolau de Tolentino e que trabalharam nas Filipinas antes de serem destinados à Província de Santo Tomás de Vilanova: Vicente Soler, Leão Inchausti, José Rada, Vicente Pinilla e Julião Moreno.
Madri, década de 50
Em 1954, uma fundação rompeu com séculos de tradição rural na Espanha. Antes de 1835, apenas 25% dos 33 conventos recoletos estavam em grandes cidades; e as casas de formação da Província (Alfaro, Monteagudo, Marcilla, San Millán, Sos, Lodosa) foram estabelecidas em áreas rurais; até que em 1954, foi aberta uma residência em Madri ao lado da Cidade Universitária.
A casa seria a nova cúria provincial e um centro para trazer muitos religiosos para as salas de aula da universidade. Em outra parte do terreno, delimitado pelas ruas Cea Bermúdez e Gaztambide, foi inaugurada em 1959 uma igreja de proporções consideráveis e arquitetura de vanguarda: Santa Rita.
Foi um espaço dinâmico para o bairro e para a Província: abrigou a Livraria Avgvstinvs, os escritórios editoriais de Avgvstinvs e Todos Misioneros, e as Oficinas Santa Rita, um projeto de solidariedade com salas de confecção e vestuário. Abrigou dois Capítulos Gerais e três Capítulos Provinciais.
O ano de mil novecentos e sessenta e dois é paradigmático: 44 religiosos de comunidade, onze no ano pastoral — que é o período da formação após a ordenação — e nove na Universidade estudando Ciências Geológicas, Línguas Românicas, Línguas Clássicas, Filosofia, Letras, Jornalismo e Composição Musical. Foram 450 000 primeiras comunhões em Santa Rita, foram realizadas 126 casamentos e cerca de 60 missas solenes. Em 1961, se hospedaram nesta casa, 229 religiosos.
As circunstâncias mudaram; a casa provincial foi transferida em 1966; o edifício tornou-se uma residência universitária para estudantes externos, administrada pela província até 2004, posteriormente administrada por uma universidade privada, sob contrato. Desde então, só existe uma comunidade recoleta em Santa Rita.
A casa de Cea/Santa Rita desenvolveu um grande trabalho social na periferia de Madri, dominada pelas migrações rurais. Desde Santa Rita, se atendia o bairro de Santa Catarina, onde os religiosos criaram um dispensário médico. A Cáritas Santa Rita, herdeira deste compromisso, continua até hoje a realizar uma atividade muito intensa.
Em 1965, a Província assumiu a nova paróquia das Santas Perpétua e Felicidade em La Elipa, uma área já atendida pela paróquia de Santa Rita. As celebrações começaram nas dependências particulares que haviam sido emprestadas, com seis bancos trazidos de Santa Rita. Os religiosos viviam em um apartamento alugado.
A igreja com sua casa paroquial anexa foi inaugurada cinco anos mais tarde. O tecido social do bairro mudou, não sua simplicidade: dos imigrantes rurais dos anos 60 para os latinos dos anos 90. Foi entregue à Diocese em 2016, apenas um ano após comemorar seu 50.º aniversário.
3. Comunidade internacional
Ocorreu outro fenômeno naquele momento que modificou profundamente a composição das comunidades.
Até 1970, a Espanha era um celeiro de vocações, que exigia a manutenção simultânea de cinco casas de formação para as diferentes etapas, porém a secularização progressiva da sociedade e o declínio da perseverança, apesar do trabalho abnegado de promotores vocacionais e formadores, foi necessário fechar três seminários, um após o outro: o seminário de filosofia de Fuenterrabía (Guipúzcoa) em 1982 e os seminários menores de Valladolid em 1992 e Lodosa (Navarra) em 1993.
Aconteceu a mesma coisa no Reino Unido, onde até 1970, as vocações, quase todas de origem irlandesa, haviam sido bastante numerosas, depois disso, eles começaram a diminuir até se tornarem, a partir dos anos 90, um número quase testemunhal.
Ao mesmo tempo, a Província estendeu a vários países as primeiras etapas do ciclo formativo, onde adolescentes e jovens cursam os ciclos de educação obrigatória.
No México, o Colégio Apostólico São Pio X em Querétaro estava em funcionamento desde 1955, e, em 1981, foi inaugurado um centro de estudos filosóficos em Coyoacán (Cidade do México), que foi transferido seis anos depois para o novo e bem equipado Postulantado Santo Agostinho, na mesma cidade.
Na Costa Rica, a promoção vocacional não era considerada sistematicamente até 1984, quando a infraestrutura da Ciudad de los Niños foi colocada em bom uso. Em 1991, foi inaugurado o novo Postulantado Santo Ezequiel Moreno em Pozos de Santa Ana (San José).
Após séculos de implementação, nas Filipinas, o processo vocacional está agora mais avançado e completo. Em 1985, os jovens filipinos já podiam acompanhar todas as etapas em seu país, tendo um seminário menor (San Carlos, 1947); um postulantado para o estudo de filosofia (Baguio, 1965); um noviciado (Baguio, 1970, transferido para Antipolo desde 1991); e um centro teológico (Cidade Quezon, 1985).
Desta forma, a Recoleção Filipina se preparava para sua independência, que seria consumada em 1998 com a fundação da Província de Santo Ezequiel Moreno.
A consequência de tudo isso é que, com o passar dos anos e progressivamente, as vocações espanholas diminuíram ao mesmo tempo, em que as das Filipinas, México, China, Costa Rica e Brasil aumentaram.
Concluiu-se um importante processo de internacionalização da Província e de suas comunidades.
4. Sístole e diástole
Nem a crise vocacional, nem a transformação de suas comunidades levaram a Província ao desânimo ou à resignação.
Alguns ministérios foram deixados, por exemplo, nas Filipinas, onde o clero diocesano é agora abundante. Na década de 1970, a Província começou a pensar em deixar o território histórico de Palauã, o que foi feito em 1987; e entre 1950 e 1985, 19 das 21 paróquias administradas em Negros e Siquijor foram entregues às dioceses. Em compensação, assumimos a pastoral das paróquias que ficam no entorno de residências estudantis, colégios ou de localidades que se encontram em áreas pastoralmente negligenciadas.
A Província também ampliou sua presença em países como Espanha, México, Estados Unidos e Costa Rica.
Na Espanha havia conseguido se estabelecer em Madri em 1959, com o complexo de Cea e Santa Rita, paróquia desde 1965, ao mesmo tempo que a paróquia das Santas Perpétua e Felicidade, no bairro operário de La Elipa. Em 1972, se inaugura a Paróquia de Santa Mônica, em Saragoça (fotos).
Porém, nem todos são ministérios urbanos: as comunidades de Lodosa, Marcilla, Monteagudo e Saragoça atendem as paróquias na zona rural; encontramos essa mesma disponibilidade no atendimento de paróquias da zona rural na Diocese de Almería.
Na América encontramos uma grande expansão; porém essa expansão não foi tão acentuada nos Estados Unidos, onde existia duas tendências contrastantes. Por um lado, a então Província de Santo Agostinho experimentou um forte declínio de 20 casas em 1975 para 11 em 1995.
Por outro lado, a Província de São Nicolau ganhou uma base no país ao destinar os religiosos de língua inglesa que haviam trabalhado nas Filipinas. Seu primeiro ministério, o de Bayard (Novo México), havia sido aprovado em 1973.
A Província já estava presente no México quando o Concílio começou, mas em 1971 os ministérios haviam crescido para 22, atendidos por 65 religiosos, e na Costa Rica a província se fez presente em 1965, na capela do Carmo, Alajuela, e depois na Ciudad de los Niños em Cartago.
O movimento de expansão é especialmente notável nos campos missional e social. Em geral, com o Concílio Vaticano II, o número de religiosos destinados às missões havia aumentado, bem como a seleção de religiosos.
Mais tarde, mesmo no final dos anos 80, houve uma alta repentina no espírito missionário, com maior apoio às iniciativas dos missionários.
A sequência cronológica é, em todo caso, impressionante;
- Em 1963, a Província se comprometeu a colaborar com a Diocese de Kaoshiung em Taiwan;
- Em 1966, aceitou a Prelazia de Ciudad Madera, no estado mexicano de Chihuahua;
- Em 1974 assumiu a direção de paróquias em Guam (Micronésia);
- Em 1977 é a vez da Ordem se instalar no cantão de Sarapiquí, na Costa Rica, na fronteira com a Nicarágua;
- Em 1979 assumiu a administração da Prelazia de Lábrea, na Amazônia, onde a Ordem estava desde 1925;
- Em 1996 assumimos a missão de Kamabai (Biriwa) na província de Serra Leoa, no norte do país.
Serra Leoa: a Província pioneira na África
A chegada dos Agostinianos Recoletos à Serra Leoa tem uma longa história. Na ata do Conselho Provincial de 7 de dezembro de 1990, aparece pela primeira vez a possibilidade de uma missão africana. O Capítulo de 1994 discutiu o assunto, pois a Santa Sé havia pedido à Ordem que atendesse às graves necessidades de falta de missionários dos bispos africanos.
A Cúria Geral transferiu a petição para a Província de São Nicolau por três razões: tinha o maior número de religiosos; já tinha ministérios em países de língua inglesa; e serviria para preparar a futura Província filipina com uma missão ad gentes assim que nascesse.
Em 29 de dezembro de 1996, os cinco fundadores da primeira comunidade africana da Ordem chegaram à Serra Leoa. Sua sede seria em Kamabai, 225 quilômetros a nordeste de Freetown.
É uma região muçulmana muito pobre, mas na época, as principais dificuldades vinham do ambiente político: desde 1991, havia uma guerra civil, que se tornou particularmente grave a partir de 1997.
Dia 14 de fevereiro de 1998 um agostiniano recoleto, José Luís Garayoa (1952–2020, foto), foi sequestrado; para não sofrer o mesmo destino, o resto da comunidade recoleta fugiu pelo campo protegido por heroicos voluntários locais. O refém foi libertado após 13 dias; outros dois conseguiram deixar o país em 11 de março, e em 12 de janeiro de 1999 os dois que haviam conseguido ficar no país partiram.
Com o fim oficial da guerra em 2002, após uma trégua de cinco anos e três meses, os agostinianos recoletos voltaram ao país no dia 28 de março de 2004. A missão agora é organizada pela Província de Santo Ezequiel Moreno, que em 2006 abriu uma nova comunidade em Kamalo, a 90 km de Kamabai.
A população católica está dispersa: é preciso percorrer muitos quilômetros em estradas ou caminhos ruins para encontrar alguns dos fiéis, que não têm grande importância social. Certos costumes exercem grande pressão sobre eles: poligamia, machismo estrutural, ritos de iniciação, mutilação genital, sociedades secretas, superpotência, animismo, casamento infantil, o uso da violência como meio de educação…
A Província de São Nicolau continuou até 2014 a apoiar diretamente, com religiosos e projetos de desenvolvimento. Centenas de bolsas de estudo para o ensino médio e superior foram pagas, dezenas de escolas foram construídas e reformadas, a formação de professores foi organizada e pequenos vilarejos em toda a região conseguiram seus próprios poços de água potável. Dezenas de voluntários profissionais de todos os tipos proporcionaram importantes avanços na agricultura, energia e saúde. As escolas na Espanha mobilizaram recursos de todos os tipos e aproveitaram a oportunidade para educar de forma solidária.
5. Família, não apenas Ordem
O espírito do Vaticano II não podia deixar de afetar profundamente o estilo de vida dos religiosos. Por um lado, colocar a comunidade no centro leva a uma apreciação muito maior da família; por outro lado, partir da Igreja como Povo de Deus leva a uma apreciação do papel dos leigos.
A existência de uma Família Agostiniana Recoleta é para muitos uma novidade do período pós-conciliar; e todos os religiosos, ao menos, tem essa sensibilidade de ajudar uns aos outros dando-lhes um apoio incondicional.
Tanto na Espanha como no México, onde as Agostinianas Recoletas estão há séculos, a Província se coloca à sua disposição: elas são e se sentem irmãs de pleno direito dos religiosos; e a mesma coisa acontece com a Província de Santo Agostinho em relação ao mosteiro nos Estados Unidos. A colaboração é obviamente muito mais intensa em países onde não há presença de outras Províncias da Ordem, como o México e as Filipinas.
Com as Augustinian Recollect Sisters, fundadas no século XVIII e com sua presença por todo o Arquipélago, sempre houve contato, mas hoje em dia se torna cada vez mais familiar, à medida que aumenta o número de recoletos filipinos.
A relação com as Missionárias Agostinianas Recoletas, cujas origens remontam à missão da China e cuja casa mãe é próxima à da Província, em Monteagudo, também se tornou mais intensa.
O círculo familiar não se limita às religiosas; também têm seu lugar na família: os parentes diretos dos religiosos, expressamente reconhecidos pelas Constituições pós-conciliares, ou aqueles benfeitores e colaboradores que receberam a distinção de “irmãos mais velhos” por seu apoio e serviços à Ordem.
Algumas associações compartilham o carisma e a missão com os religiosos, como a Fraternidade Secular Agostiniana Recoleta e as Juventudes Agostinianas Recoletas; e outras que foram fundadas pela Província, como as Madres Cristianas Santa Mónica (Mães Cristãs Santa Mônica), uma associação que nasceu na paróquia de Santa Rita em Madri em 1987; ou algumas ONGs que surgiram em Lodosa (Navarra) e Getafe (Madri) por seu apoio direto às obras evangelizadoras e missionárias.
A Fraternidade Secular foi estabelecida no início da década de 50 e onde foi melhor recebida foi na então Província de Santo Agostinho, que a instituiu em todos os seus ministérios já em 1951. Em 1959, realizou sua primeira convenção em Kansas City, e um congresso geral em 1962. Em 1967, seus membros nos Estados Unidos chegaram a 1.708, com 172 pessoas em pré-formação.
Um de seus principais promotores foi Francisco Moriones, que assumiu a tarefa de fornecer material formativo, desta forma publicou um Manual de Espiritualidade Agostiniana em três volumes, que durante anos acompanhou a reflexão das Fraternidades Seculares em todo o mundo.
6. Empoderamento dos leigos
Os leigos tornaram-se protagonistas após o Concílio, que apresentou a Igreja como Povo de Deus e dedicou um documento completo ao apostolado dos leigos.
A Província de Santo Agostinho escreveu uma brilhante página de trabalho com os leigos com os Cursos sobre o Cristianismo. Em 1962 abriu uma filial em Manhattan, o Centro São José, com cursos para adolescentes e a escola para líderes. Em 1970 é mantido contato com 4.000 estudantes de cursos, e em 1972 o movimento já estava presente em 75 paróquias de Nova Iorque. A partir daí, se expandiu para o resto do país.
Em 1970, David Arias lançou o programa Luz e Vida de encontros nos lares; dois anos mais tarde, havia 45 grupos em 30 paróquias. No ano seguinte, José Maria Viana (1936–1984) fundou a Associação de Sacerdotes hispânicos de Nova Iorque. Em 1978, Arias foi encarregado do Apostolado hispânico em Nova York (1978–1983), e em 1983 foi nomeado bispo auxiliar de Newark (Nova Jersey) e vigário para os Assuntos hispânicos.
Em 1972, Alfonso Gallegos (1931–1991), pároco do conturbado bairro de Watts em Los Angeles (Califórnia), foi nomeado Diretor de Assuntos hispânicos para a Conferência dos Bispos Católicos da Califórnia. Em 1981, ele foi nomeado bispo auxiliar de Sacramento.
Dando continuidade a esta trajetória nos Estados Unidos, em 1997 a Província de São Nicolau de Tolentino assumiu a direção do Centro de Guadalupe (Union City, New Jersey) para a Pastoral Hispânica da Diocese de Newark (abaixo).
Além disso, a colaboração da Província com os leigos progrediu em todos os aspectos. Neste sentido, o campo da educação foi particularmente importante na Espanha e no México. São da mesma época: a abertura dos grandes centros educacionais pré-universitários em Valladolid (1966), Querétaro (1970) e Saragoça (1976, na parte inferior), assim como a residência universitária Augustinus em Madri (1965).
Isto levou a um aumento significativo do nível cultural dos religiosos que, uma vez terminada sua formação eclesiástica, eram destinados em sua maioria para centros de ensino superior.
No início, os religiosos eram numerosos nos centros, ocupando quase todos os postos de ensino, porém por conta das proporções adquiridas, promoveu-se uma crescente participação dos leigos, centrando o papel dos religiosos na formação carismática e na salvaguarda do ideário.
Os leigos primeiro colaboraram — nas décadas de 70, 80 e 90 do século XX — nas equipes de ensino; e mais tarde começaram a ter acesso a cargos de gerenciamento por área e direção-geral.
7. A vanguarda missionária
Muitos missionários já haviam trabalhado no campo da educação, e muitos laços foram estabelecidos entre escolas e missões.
Novos tempos estavam por vir, o que favoreceu a chegada de novos recursos para as missões, a promoção de voluntários civis e a implementação profissionalizante de numerosos projetos sociais em Serra Leoa, Costa Rica, México e, de forma especial, no Brasil.
Em áreas da infância, saúde, moradia, água e saneamento, educação, mulher e igualdade, formação de lideranças, defesa das comunidades rurais da Amazônia e assistência às vítimas de abuso são os principais campos de ação social nos quais a Província atua desde os anos 90.
Em tudo isso, as missões se sentem apoiadas por todos os ministérios da Província, pelas escolas, assim como pelas paróquias e casas de formação. As comunidades enriquecem a dimensão de solidariedade que sempre as caracterizou.
Desta forma, entre os ministérios e a vanguarda missionária, é estabelecido um fluxo contínuo de informação, cooperação, voluntariado, envio de recursos, com uma variedade de modalidades que vão desde parcerias e patrocínios até campanhas informativas, bazares, reuniões com missionários, conferências e iniciativas de todo tipo.
Em alguns casos, esses grupos locais se tornaram instituições reconhecidas (ONGs) com acesso a licitações públicas da Administração para cooperação ao desenvolvimento, disponibilizando recursos que antes eram impensáveis para os projetos da Província.
Como resultado, desde os anos 90, projetos de grande impacto e complexidade tomaram forma em vários campos: moradia (Handumanan nas Filipinas, Lar Digno e Casas Comunitárias no Brasil); água potável e saneamento em Serra Leoa e no Brasil; educação em Serra Leoa (construção de escolas e concessão de bolsas de estudo), Brasil (Centros Esperança) e consolidação, profissionalização e expansão progressiva da Ciudad de los Niños na Costa Rica; projeto sociossanitário CARDI no México; e Lar Santa Mônica para a proteção de crianças e adolescentes no Brasil.
Um caso particular é o apoio aos povos indígenas e ribeirinhos, e a proteção do meio ambiente em Lábrea (Amazonas, Brasil). Os missionários têm estado muito ativos no campo cooperativista, na demarcação de terras indígenas, na universalização da assistência médica e na proteção de crianças, adolescentes e maternidade.
Um símbolo destas lutas, é a Irmã Cleusa Carolina Rody Coelho, missionária agostiniana recoleta assassinada em 1985 e hoje em processo de beatificação.
8. Filipinas e China
Na segunda metade do século XX houve dois acontecimentos transcendentais para a Província, ambos no Extremo Oriente.
O primeiro dos acontecimentos afetou as Filipinas: em 1998, ano do primeiro centenário da Revolução que mudou a face da Província e da Ordem dos Agostinianos Recoletos, as comunidades e ministérios do país formaram uma nova Província — a oitava naquela época — com o nome de Santo Ezequiel Moreno.
Por um paradoxo da história, a Província de São Nicolau de Tolentino abandonou o que tinha sido seu território histórico durante 375 anos.
Não foi um processo repentino, e sim, um processo bem preparado, que as autoridades da Ordem haviam monitorado cuidadosamente. Um exemplo disso foi o campo da educação. Este apostolado se desenvolveu esplendidamente nas últimas décadas, ao ponto de, em 1998, cerca de 40.000 alunos estarem sendo educados em escolas filipinas, três delas universidades.
O segundo acontecimento se desenvolveu na missão da China que nasceu como uma extensão das Filipinas, e como uma base de apoio até que com a chegada da República Popular e a chamada cortina de bambu a missão foi encerrada em 1949.
Durante várias décadas, os recoletos chineses estiveram completamente isolados do resto da província. Nesses trinta anos, quase todos os religiosos morreram após terem sofrido anos de trabalho forçado e prisão.
No entanto, no final dos anos 80, a comunicação foi retomada e as “brasas” da fé foram descobertas na missão de Shangqiu, onde alguns homens e mulheres religiosos permaneceram firmes na fé.
A Santa Sé nomeou Nicolau Shi (1921–2009) e José Wang Dian Duo (1921–2004) como bispos de Shangqiu (Henan) e Hezé (Shandong), respectivamente.
São dois agostinianos recoletos que, após sofrer inúmeras humilhações, encontraram uma maneira de lidar com as autoridades. Com a ajuda de um grupo de irmãos de hábito, estes dois bispos conseguiram recuperar a assistência pastoral e revitalizar suas Dioceses.
Ao mesmo tempo, alguns dos religiosos chineses que tinham conseguido sair do país antes da Revolução por serem seminaristas na época, conseguiram voltar à República Popular para visitar seus familiares e seus irmãos de hábito.
Eventualmente, as próprias autoridades da Ordem (prior geral e prior provincial) e outros religiosos não-chineses também conseguiram visitar a missão.
Tudo isso parecia anunciar uma vigorosa primavera.
SEGUINTE PÁGINA: 7. Século XXI: perspectiva de futuro
ÍNDICE
História da Província de São Nicolau de Tolentino:
‘Sempre em missão’
- História da Província de São Nicolau de Tolentino: ‘Sempre em missão’
- 1. Introdução: “Navigare necesse est”
- 2. Século XVII: A Província de São Nicolau de Tolentino
- 3. Século XVIII: Filipinas, uma terra de façanhas
- 4. Século XIX: Filipinas, auge e declínio
- 5. Século XX antes do Vaticano II: a eclosão
- 6. Século XX depois do Vaticano II: agitação em alto mar
- 7. Século XXI: perspectiva de futuro
- 8. Epílogo: Viver o presente com paixão e abraçar o futuro com esperança