No dia 18 de novembro de 2023, o agostiniano recoleto Francisco Javier Acero Pérez foi ordenado bispo auxiliar da arquidiocese da Cidade do México pelo arcebispo Carlos Aguiar na Basílica de Nossa Senhora de Guadalupe.
Já se passou um ano desde a sua ordenação episcopal e gostaríamos de lhe fazer algumas perguntas para informar os visitantes de www.agustinosrecoletos.org para que se sintam ligados ao senhor. Minha primeira pergunta, logicamente, é como está sua saúde, espírito e motivação.
Desde que entrou em cena a sua nomeação e ocorreu a sua ordenação episcopal, já se passou um ano. Por ser o primeiro, deve ter havido novos acontecimentos. De quais o senhor lembra com carinho especial?
Pessoalmente, tem sido uma novidade viver fora da comunidade agostiniana recoleta, embora nós, bispos auxiliares, vivamos em comunidade. Os costumes da comunidade continuam: oração, diálogo, escuta, espaço fraterno, que são enriquecidos em outros âmbitos eclesiais.
O novo acontecimento exteriormente foi a visita pastoral. Dois dias depois da minha ordenação episcopal, participei do processo de visita pastoral na Arquidiocese do México, liderado pelo cardeal arcebispo primaz do México. Um processo que já dura quase dois anos, visitando ambientes e paróquias.
As visitas às paróquias são momentos especialmente agradáveis e de grande aprendizagem. Escutar os sacerdotes, as suas preocupações, escutar as pessoas, os seus problemas e sua experiência de fé, foram momentos importantes para iniciar este ministério que exige proximidade e muita misericórdia.
Como bispo auxiliar acompanho D. Carlos e os cinco bispos auxiliares no pastoreio de uma grande cidade. Isso requer muita oração e paciência.
As mudanças estruturais que foram feitas na Igreja são justas e necessárias. As exigências são compreensíveis quando não queremos uma igreja dinâmica, em processo e voltada para os mais vulneráveis. Toda mudança é boa; o “sempre foi feito assim” ou sonhar com uma igreja nostálgica, de museu nos faz permanecer num estado pouco missionário e muito acomodado, mais ideológico do que experiencial. Há uma frase atribuída ao músico Gustav Mahler em relação à tradição que o Papa citou em alguma entrevista: “a tradição é a transmissão do fogo, não a adoração das cinzas”. Penso que é hora de avaliar estas mudanças pessoalmente e a partir da fraternidade sacerdotal. As avaliações são processos de melhoria que nos ajudam a dinamizar estruturas e a observar que não podemos retroceder para preservar o humanismo.
O vicariato dos leigos no mundo é outra novidade e uma das tarefas que tenho como bispo auxiliar; é um trabalho novo e apaixonante. Um Vicariato que trabalha com tudo o que a Igreja faz lá fora. Desde o aspecto sócio caritativo, da cultura e da evangelização, do ecumenismo e do diálogo inter-religioso, ao contato com as realidades mais distantes da Igreja e de Deus. São treze dimensões que são acompanhadas pelo trabalho em equipe. Um bom número de leigos está habituado ao trabalho colaborativo e creio que é isso que faz com que este Vicariato funcione bem.
Como o senhor se sentiu durante o curso preparatório para bispos em Roma? Diria que lhe proporcionou uma nova experiência de aprendizagem que, olhando para ela um ano depois, foi especialmente útil para o desenvolvimento da sua tarefa?
No curso preparatório para os novos bispos, me senti membro de uma Igreja universal, integrada nos problemas quotidianos de cada região e país. Uma das questões mais importantes é trabalhar em harmonia com a Província Eclesiástica e a Conferência Episcopal. O trabalho colaborativo nas diversas áreas das Dioceses é um gesto que enriquece as Igrejas e uma estrutura que ajuda a chegar às realidades mais remotas.
É claro que os meios de comunicação e as novas tecnologias nos aproximaram muito, para que possamos todos caminhar na mesma direção. O ritmo da oração no encontro também foi importante, não só para poder decidir o que era mais adequado, mas também para poder ecoar o que se vive internamente. Dado que o curso foi desenvolvido sobre sinodalidade, me confirmou que sem os leigos não podemos trabalhar. Eles são a parte essencial da Igreja.
O encontro pessoal com o Papa sempre deve marcar. Que impressão lhe causou a saudação e a conversa com o Papa Francisco?
O Papa Francisco está informado sobre o que está acontecendo no mundo. Neste momento vários problemas internos e externos estão sendo abordados. A reforma da cúria, o clericalismo e a falta de transparência; as guerras no mundo e as migrações. Nas ocasiões em que me encontrei com o Santo Padre, o vi forte e com uma capacidade de escuta impressionante. Naquela idade ele sempre tem a agenda cheia, onde está atendendo todo tipo de pessoas. Sua agenda pessoal de reuniões noturnas é mais folgada.
A última vez que pudemos nos encontrar, ele estava finalizando alguns detalhes do Sínodo; estava presente também o Cardeal O’Malley, Arcebispo de Boston, e o Conselho Latino-Americano do Centro de Prevenção de Menores (CEPROME). Ali ele nos deixou uma ordem muito séria e pediu que orássemos por ele. Francisco disse: “Não quero que passe sem prestar atenção a um problema que é gravíssimo nessa questão de abuso, a filmagem de pornografia infantil, que infelizmente, pagando uma pequena taxa já podem ter no telefone. Onde é feita essa pornografia infantil? Em que país é feito? Ninguém sabe. Mas é um crime colocado ao serviço de cada pessoa através do seu celular. Por favor, vamos conversar sobre isso também. Porque as crianças que são filmadas são vítimas, vítimas sofisticadas desta sociedade de consumo. “Não se esqueçam deste ponto, que me preocupa muito.”
Na Arquidiocese da Cidade do México, que áreas de pastoral lhe são confiadas diretamente pelo Cardeal Carlos Aguiar?
O Vicariato dos leigos no mundo, que, como já comentei, é um trabalho novo e apaixonante. Um Vicariato que trabalha com tudo o que a Igreja faz fora: a vertente sócio caritativa; a cultura e a evangelização; o ecumenismo e o diálogo inter-religioso; o contato com as realidades mais distantes da Igreja e de Deus. São treze dimensões que são acompanhadas pelo trabalho em equipe.
Também acompanho a Universidade Católica da Arquidiocese Lumen Gentium, uma Escola Secundária e uma Escola Preparatória que pertencem à Arquidiocese.
Também coordeno a Comissão de Menores e o Gabinete de Comunicação, e o território da segunda zona pastoral. Muitas tarefas que podem ser acompanhadas por grandes equipes de leigos, religiosos e religiosas e sacerdotes diocesanos. O importante é ouvir e estar presente, estar próximo.
Como o senhor percebe a sinodalidade, tão defendida pelo Papa Francisco, na Arquidiocese da Cidade do México e no território ou pastoral que está sob sua responsabilidade?
É um processo que deve ser melhorado com maior participação dos leigos. Nesta Arquidiocese trabalhei como vigário paroquial, pároco e reitor. Já naquela época existiam assembleias paroquiais, territoriais e vicariatos arquidiocesanos. Hoje o Papa mostra-nos um discernimento que vai além do consenso. Uma tentação que temos é o clericalismo por parte do presbitério e dos leigos. Se aplicarmos a conversação espiritual em nossas assembleias os resultados serão diferentes.
A Arquidiocese está construindo o caminho sinodal nas paróquias e também nos ambientes desta grande cidade. A consciência e o estilo sinodal são marcados pela experiência pessoal de encontro com Cristo, a partir daí podemos começar a sentir a comunhão, a missão e a participação.
Para compreender a sinodalidade devemos deixar-nos evangelizar. E a evangelização é um processo longo que requer apoio integral e também avaliações para não permanecer em simples acontecimentos. Numa Arquidiocese tão grande, acredito que o desafio é estabelecer redes a partir dos Decanatos.
O território que acompanho está preparando assembleias paroquiais e decanais. Em algumas zonas é difícil pelo estilo de vida que levam, encarando a Igreja como um auto-serviço; mas não é uma tarefa impossível; estamos a procurar uma forma de o fazer inter-paroquialmente. A proximidade desde o átrio, a atenção personalizada na unção dos enfermos e a reconciliação são fundamentais para termos mais do que igrejas cheias, leigos verdadeiramente comprometidos.
Que problema o senhor considera mais urgente na arquidiocese da Cidade do México, que provavelmente se estende a toda a República Mexicana?
A violência, a falta de confiança na Igreja e a emergência educativa. A violência é um flagelo generalizado em toda a República Mexicana. Em 2000, a Conferência Episcopal Mexicana compartilhou uma carta pastoral muito boa que hoje me ajuda a compreender a situação que vivemos. A carta pastoral tem como título “Do Encontro com Jesus Cristo à solidariedade com todos. O Encontro com Jesus Cristo, caminho de conversão, comunhão, solidariedade e missão no México no limiar do terceiro milênio”. Nesta carta pastoral os bispos apontaram políticas de prevenção para evitar a propagação da violência e do tráfico de drogas. As diferenças nas estruturas sociais e estratégias que levaram mais ao individualismo e ao relativismo moral. O que foi escrito há 23 anos estamos vivendo hoje.
A falta de confiança na maioria das instituições religiosas e civis é dada pela questão não só do abuso sexual por parte de clérigos, mas sim pelo abuso de poder por parte daqueles que desempenham serviço governamental, que mais que empoderar-se, deveriam viver a partir de um serviço desinteressado.
Ter a mesma direção, evitar a falta de transparência, deixar o Espírito falar, deixar interesses mesquinhos que conseguem ideologizar e separar da difamação do outro ou do conforto pessoal. Quando somos movidos por estes interesses, o mundanismo espiritual vem à tona com gestos poucos evangélicos.
A educação católica no México é outro problema complexo e grave. Nossos centros educacionais continuam a incomodar aqueles que governam. Nossos estudantes devem ser capazes de se tornar construtores de paz, promovendo o desenvolvimento humano integral para que possam ser pessoas plenas, integrais e com uma dimensão social que promova, como dizem os documentos da CEM -Conferência Episcopal Mexicana-, uma cultura aberta ao diálogo e com os valores do evangelho.
Apoiar os pais na defesa dos valores e também na participação, como cidadãos, através do diálogo e da nossa condição de crentes. A globalização da indiferença e do consumismo radical fez com que muitos dos nossos jovens se sentissem sozinhos. O México tem um alto índice de suicídios juvenis e também temos que lidar com isso nas escolas católicas com boa formação de professores, menos ideologizadas e mais humanas. Que eles sejam mais apaixonados pela educação do que pela política partidária.
Também está o tema das migrações. Uma questão complexa que está lentamente a criar xenofobia em algumas partes do país.