Agostinho de Hipona é nosso fundador e pai de uma ampla Família Religiosa que segue su Regra, seus ensinamentos e forma de vida. Nestas páginas vamos conhecer melhor sua biografia, sua sensibilidade, sua proposta de vida comunitária a homens e mulheres de todos os tempos.

Com o passar dos anos, fizeram-me bispo de Hipona. E como em meu mosteiro haviam muitos monges bem preparados e responsáveis, outras dioceses começaram a pedi-los para bispos. Em pouco tempo, umas dez cidades da África estavam sob a tutela religiosa de irmãos meus, e com eles foi se estendendo nosso ideal: foram aparecendo novos mosteiros.

Muerte de Agustín. Santiago Bellido, lámina. Valladolid, 1999.
Morte de Agostinho. Santiago Bellido. Valladolid, 1999.

O trabalho de bispo era, então, especialmente árduo. Naquele tempo, além de ser pastor, um bispo tinha que fazer as vezes de juíz e mediador entre o povo. E não faltavam heresias para combater, em defesa dos fiéis menos instruídos. Algumas eram, inclusive, violentas e fisicamente perigosas. O chamado “donatismo”, por exemplo, estava formado por fanáticos que estavam dispostos a cometer qualquer crime para ver triunfá-lo. Chegaram até a mutilar e assassinar alguns sacerdotes. Eu mesmo estive a ponto de sofrer um atentado em uma de minhas visitas ao povo das dioceses; livrei-me, graças ao cocheiro, que errou o caminho. Outras heresias eram especialmente dolorosas para mim, como o “pelagianismo”, que negava o que eu havia experimentado em minha própria carne: que Cristo era nosso salvador.

Enfim, todas essas atividades exigiam-me escrever e falar muito. Passam de cem os livros que publiquei; mandei mais de mil cartas e preguei milhares de sermões. Como encontrei forças para tudo isso? Muito simples: o que Deus nos pede nos concede de antemão.

Claro que também tenho que agradecer aos meus irmãos monges, ao ser eleito bispo, mudei de casa, e na nova, fundei outro mosteiro: ali, viviam comigo os que eram sacerdotes. Sua companhia, seu trabalho e seus sonhos eram para mim uma fonte de energias.

Entretanto, não pude impedir que todos esses trabalhos fossem consumindo minha vida.

Para completar, o panorama político complicava-se cada vez mais. O Império Romano estava agonizando. As tropas bárbaras invadiram-nos desde a Espanha e devastaram todo norte da África. Chegaram a Hipona e fecharam o cerco. Naqueles dias, não se via mais do que morte, sangue e desolação por toda parte. Muita gente do campo havia buscado refúgio em minha cidade. Eu não resistia mais; durante esse assédio, no meio de todos os meus irmãos, me veio a morte. Era 28 de agosto do ano de 430. Eu iria completar 76 anos.

Uma vez morto, já não tinha que me preocupar comigo mesmo; podia dedicar-me eternamente a meus irmãos e filhos, e é o que venho fazendo desde então. Não contemplo com indiferença o espetáculo da história, como mero espectador, pelo contrario, vejo o compromisso de meus filhos e me apaixono e não deixo de animá-los, e os aconselho e ajudo, quanto posso. São meus filhos, formamos uma família; seus triunfos são os meus. É o que venho fazendo desde minha morte: viver com eles sua história, ajudá-los nos momentos difíceis e alegrando-me com seus êxitos.

Por isso, posso contá-las agora: as vivi e as conheço bem. Além do mais, gosto de contá-las. Nós, os mais velhos, sempre ficamos orgulhosos de nossos netos.

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