Santo Agostinho. Saint Rita’s Priory, Honiton, Devon, Inglaterra.

As missões, projetos sociais e ações solidárias são uma constante na ação da Família Agostiniana Recoleta. A Província de São Nicolau de Tolentino sempre viveu em missão, desde seu nascimento motivado pela abertura das primeiras missões de evangelização nas Filipinas no século XVII. Desde então, tem exercido sua atividade evangelizadora seguindo o mandato de Jesus nos lugares hoje chamados de “fronteira”: ali onde é necessário defender a dignidade da vida humana, a justiça social, a igualdade de oportunidades, a defesa dos mais vulneráveis.

Como filho de sua época, (354-430 D.C.), Santo Agostinho não tinha um globo terráqueo nem conhecia algo do mundo além das fronteiras do Império Romano. Mesmo assim, fala da missão como uma das verdades fundamentais da fé na Trindade. Nos séculos IV-V d.C. os cristãos estavam convencidos de que a fé estava implantada praticamente em toda a terra. Por isso não havia “missionários” como se entende hoje, pessoas que foram além das fronteiras para anunciar a Cristo.

San Agustín. Mural de Palomares. México D.F.
Santo Agostinho. Mural de Palomares. Cidade do México.

A visão que o santo teve das missões era muito parecida com a que tem o Vaticano II: As missões a partir de Deus, Pai, Filho e Espírito fazem com que a Igreja seja missionária. Isso concede a toda pessoa (de qualquer raça ou condição) a mesma dignidade, os mesmos direitos. Em um de seus escritos lembra que o nome de Adão (o protótipo e representante de todo ser humano) contém as quatro letras que em grego são as iniciais dos quatro pontos cardeais, pelo qual “todas as pessoas estão convocadas a uma mesma vocação” (comentário ao Salmo 95).

Num tempo em que as doutrinas tendiam a endurecer-se, quando era quase natural a violência como modo de defesa de ideias e credos, Agostinho toma uma postura de abertura e misericórdia. Abriu o diálogo com dissidentes, viajou, discutiu em público e em particular, por carta e em palestras, buscando soluções de concórdia e de comunhão. E condenou abertamente aos que usavam a violência como defesa da fé.

Animou a levar a mensagem de amor de Deus a todas as raças, línguas, culturas: “Sabemos que a Igreja tem chegado já a ribeira ocidental e que vai chegar, frutificando e crescendo, até as ribeiras onde ainda não chegou”, disse em sua carta 199.

Nunca permitiu que seus freis se fechassem no recolhimento e não ouvissem a voz de seus vizinhos com grandes necessidades religiosas ou sociais. Sempre pediu a seus freis um equilíbrio entre recolhimento, contemplação, caridade e ação.

Os conventos que ele e seus seguidores fundaram nunca estiveram fechados à realidade; abraçaram o contato com o povo, o testemunho de vida contra toda injustiça, discriminação e violência. Mas foi a violência que terminou com aquele sonho. Seus conventos foram arrasados na queda do Império Romano. Não assim suas ideias, seu programa de vida… Suas propostas ficaram para sempre na Igreja e séculos depois, despertaram com força.

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