Agostinho de Hipona é nosso fundador e pai de uma ampla Família Religiosa que segue su Regra, seus ensinamentos e forma de vida. Nestas páginas vamos conhecer melhor sua biografia, sua sensibilidade, sua proposta de vida comunitária a homens e mulheres de todos os tempos.

Mônica, sua mãe

Nasce em Tagaste no ano 331. Sua família era de classe média. O ambiente familiar em que Mônica nasceu e se criou era de fortes convicções cristãs. Em Mônica descobrimos um caráter decidido. Sempre a veremos pronta a enfrentar as situações mais diversas e a responder de forma moderada e definitiva. Será, sempre, mulher de uma só palavra.

Santa Mónica. Iglesia Santa Rita de Madrid (España).
Santa Mônica. Igreja de Santa Rita de Cássia, Madri (Espanha).

Enquanto a formação intelectual, Mônica não passou ensino primário. Em Roma capital, as mulheres podiam ascender com facilidade à cultura; com certeza nas províncias não tinham esta condição, pois estavam destinadas ao casamento e ao trabalho do lar.

Mônica casou-se com um homem pagão de Tagaste, com o nome de Patrício. Dedicou-se a dirigir sua casa. Como toda mulher romana, tinha a missão de cuidar das compras, do encaminhamento das atividades, cuidar dos criados e tudo o que fosse necessário. Em suma, era a responsável pela vida interna da sua casa.

A sua relação com Patrício foi muito difícil, porém exemplar. Mônica viveu numa sociedade tipicamente machista, onde acontecia com freqüência abusos e maus-tratos por parte dos maridos. Patrício tinha uma personalidade inconstante: era extremamente carinhoso, porém com a mesma intensidade era colérico. Por isso teve que exercitar com ele uma paciência e uma prudência heróicas.

Mônica tinha em mente uma árdua tarefa: a conversão do seu marido. Patrício começou a preparar-se para o batismo quando Agostinho estava com 16 anos, e morreu depois de ter sido batizado, no ano de 371. Ela havia triunfado da única forma possível, com o verdadeiro amor. Ele terminou amando-a, admirando-a e aceitando a sua fé.

Patrício e Mônica tiveram, não sabemos em que ordem, três filhos: Navígio, uma filha, cujo nome não se sabe, e Agostinho. Sua educação, como em toda família romana, foi dada pela mãe. Isto a tornou a grande catequista de seus filhos.

Santo Agostinho, Nossa Senhora da Consolação e Santa Mónica. Tagaste Monastery, Suffern, Nova Iorque, Estados Unidos.

O verdadeiro calvário de Mônica começou quando Agostinho terminou seus estudos e voltou de Cartago a Tagaste. Seu filho voltava para casa feito um maniqueísta. A partir deste momento Mônica não descansará até vê-lo convertido. Foram anos de lágrimas e de intensa oração. Para isso procurava um bispo para que a ajudasse, falando com ele. O bispo tinha sido discípulo dos maniqueístas, e renunciou e se converteu ao cristianismo de forma espontânea. Disse ele a Mônica: “Anda, vai-te e que vivas muitos anos. É impossível que se perca o filho destas lágrimas”.

Contudo, Mônica queria estar sempre ao lado de Agostinho. Este foi ensinar em Cartago e ela o acompanhou. Ali ela sofreu a experiência mais dolorosa da sua vida. Agostinho decidiu ir embora para Roma. Mônica queria acompanhá-lo, porém ele não aceitava. Teve que recorrer a uma estratégia: disse para a sua mãe que ia ao porto se despedir de um amigo e, ao amanhecer, Mônica descobriu que Agostinho havia embarcado, abandonando a África e a ela mesma. Um ano depois Mônica foi também para a Itália.

Encontrou-se com Agostinho em Milão e ele já havia abandonado o maniqueísmo. A partir daí seu filho decide não só batizar-se, mas também se tornar monge. É o ano de 386. Mônica viveu cheia de alegria a vigília pascal de 387. Naquela noite receberam o batismo seu filho e seu neto, junto com Alípio, o amigo de Agostinho. Depois todos eles deslocaram-se para Óstia, o porto de Roma e lá ficaram à espera do primeiro barco para África.

Santo Agostinho e Santa Mônica, capela de Nossa Senhora da Consolação. Cerâmica de José Luis Sánchez. Igreja de Santa Rita, Madri, Espanha.

Um dia na pousada, ela e Agostinho iniciaram uma conversa sobre o futuro depois da morte. Ambos estavam sedentos de Deus. Em escala ascendente, começaram a viver com mais intensidade o sentido de todas as coisas, de modo que, admirando tudo e como nada os saciava, chegam a aproximar-se da região da Sabedoria, que “nem foi, nem será; apenas é”. Esta experiência é conhecido como o “êxtase de Óstia”.

Cinco dias depois, Mônica teve uma doença muito grave e, aos nove dias, junto de suas pessoas queridas, e feliz porque Deus lhe havia demonstrado que não abandona aos que nele confiam, ela partiu à outra vida. Era o verão do ano 387, tendo ela 56 anos.

Sua amiga e amante

Agostinho conheceu em Cartago uma mulher que irá satisfazer suas necessidades afetivas por algum tempo. Não sabemos o seu nome, mas os fatos indicam que era cristã. O santo dá a entender que ele a conheceu numa igreja. Conviveram durante doze anos. Sua condição social era inferior à de Agostinho. Talvez por isso nunca se propuseram casamento. Segundo o costume daquela época, um homem de condição social superior não podia casar-se com uma mulher de condição inferior. Desta relação afetiva nasceu Adeodato. Quando Agostinho pensa em estabilizar sua vida propõe à sua amante deixar a relação. Ela o deixa, prometendo que nunca mais se envolverá com outro homem.

Terminada esta relação, Agostinho teve outra mais transitória. Enquanto esperava os dois anos que faltavam para a idade matrimonial se separaram, também dolorosamente. Agostinho afirma que foi fiel a ambas, o que era pouco comum naquela época.

Adeodato

Nasceu por volta do ano 371, quando Agostinho, seu pai, estava com 17 anos. Morreu jovem, no ano 388 ou 389. As referências que Agostinho nos dá de seu filho são da última época da vida do mesmo: foi batizado no mesmo dia que seu pai, viajou com ele para a África e esteve nas primeiras experiências de vida comum de Agostinho. Fica para nós uma obra literária de Agostinho, De Magistro, que reproduz uma conversa entre Agostinho e Adeodato.

Alípio

Foi o amigo entranhável de Agostinho. Conheceram-se quando Agostinho foi seu professor. Pertencia a uma família ajustada e rica, o que marcou a sua formação. Sabia se desenvolver entre a alta sociedade. Sabemos que tiveram somente um período de distanciamento quando discutiu com o pai de Alípio. Alípio estava completamente alienado com os jogos imperiais, e Agostinho consegue livrá-lo dessa verdadeira dependência.

Alípio era uma pessoa extremamente sensível. Estudou direito, convertendo-se numa pessoa muito exigente em sua profissão, com atrativos de político. Lutou contra corrupções e injustiças, até o ponto de enfrentar-se com alguns senadores e ser quase perseguido por eles.

Alípio renunciou seu ofício ao ir a Milão e quis dedicar-se ao ideal do Hortensius de Cícero, com um caminho muito parecido ao de Agostinho, quanto aos valores e ideologia. De fato será sucessor de seu amigo, tanto na presidência da comunidade de Tagaste, como na defesa dos valores católicos e será também eleito bispo.

Santos Alipio y Posidio. Jaime Domínguez, México.
Santos Alípio e Possídio. Jaime Domínguez, México.

Possídio

Foi discípulo de Agostinho e também chegou ao episcopado. Seus escritos, especialmente seu Vita Augustini e Indiculus são as obras fundamentais para conhecer Agostinho. O primeiro é a primeira biografia escrita do santo; o segundo, um índice de todas as obras escritas por ele, divididas em obras, epístolas e sermões. Conhecia muito bem a biblioteca de Agostinho em Hipona e sempre esteve muito próximo dele.

Nebrídio

É outro dos grandes amigos de Agostinho, com quem trocou um grande número de cartas. Era de Cartago e também, como Possídio, era de família rica e elevada socialmente. Encontra-se com Agostinho quando este pertencia à seita maniquea. Nebrídio lhe segue nesta seita, mas não se deixou arrastar tanto quanto Agostinho, talvez por sua elevada inteligência. De fato, criticou com severidade o maniqueísmo e o próprio Agostinho começa a duvidar da seita por influência de Nebrídio. Ele forma com Agostinho as primeiras comunidades com que tanto haviam sonhado. Era investigador acérrimo, dedicado leitor. Agostinho o teve como modelo de intelectual.

Nebrídio não se batizou com Santo Agostinho, mas sabemos que morreu cristão. A última notícia que se tem dele é pouco antes da ordenação sacerdotal de Agostinho, no ano de 391. Foi firme defensor da vida íntima da comunidade, até o ponto de que muitas vezes criticou Agostinho por dedicar-se excessivamente aos que chegavam ao mosteiro pedindo ajuda, excessivas saídas, etc.

Romaniano

Foi companheiro de Agostinho. Ele era compatriota do santo e um de seus filhos, Licêncio, estava na comunidade de Casicíaco quando Agostinho a formou. Romaniano era parente de Alípio e famoso por sua liberalidade. Fez-se maniqueísta com Agostinho, lhe pagou os estudos superiores em Cartago e também se relacionará com ele em Milão quando vai resolver assuntos na corte. Quis participar na comunidade de filósofos de Milão, e permaneceu maniqueísta uma vez que Agostinho se batiza. Parece que se converteu no final de seus dias. Não foi em vão, pois para ele Agostinho havia escrito livros como De vera religião e Contra acadêmicos.

Simpliciano

Era sacerdote católico, muito culto. Batizou Santo Ambrósio e acompanhou Agostinho antes de sua conversão. Foi ordenado bispo de Milão quase ao mesmo tempo em que Agostinho o foi em Hipona.

Verecundo

Era o dono da propriedade de Casicíaco onde se inicia a comunidade de Agostinho. Estava casado com uma mulher cristã e embora sempre quis viver na comunidade nunca pôde. Finalmente, em seu leito de morte foi batizado.

Paulino de Nola

Desenvolveu sua amizade com Agostinho por meio de cartas. Nunca se conheceram pessoalmente. Era um admirador de Agostinho. Nasceu em Burdeos, na França, no ano de 353, de uma família muito influente. Como Agostinho, foi batizado por Santo Ambrósio após uma conversão radical. Estava casado com uma mulher chamada Terência, mas vendeu todas as suas posses e se retirou a Barcelona (Espanha). No ano de 394 é ordenado sacerdote e se muda a Nola (Itália) para viver como monge ao lado da tumba de São Félix de Nola. Sem dúvida, durante sua vida sofreu os choques do pelagianismo e suas muitas cartas com Agostinho eram fruto de suas dúvidas, para decidir-se entre Agostinho ou Pelágio.

Aurélio de Cartago

Era o bispo de Cartago enquanto Agostinho presidia a sede de Hipona. Conheceram-se em 385, na viagem de volta da Itália à África. Aurélio já era diácono. Ambos complementavam-se na procura da reforma da Igreja africana. Aurélio era organizador nato e Agostinho o ideólogo. Os dois juntos conseguiram que a Igreja africana superasse a crise donatista, voltando todos à unidade mediante a Conferência de Cartago de 411.

O chamado partido de Donato ou “donatismo” apareceu na África aproximadamente no ano 305 como reação ante as fugas durante a última grande perseguição aos cristãos (anos 303-305). Pretendia que a Igreja só estivesse formada de santos, e que os pecadores não estivessem nela inseridos. Era como o fariseu da parábola (cf. Lc 18,9-14), que começa apresentando um Deus juiz, continua colocando em dúvida sua misericórdia e, no fundo, termina negando o poder do próprio Deus para perdoar. As conseqüências foram desastrosas para a cristandade africana pela divisão e a perseguição sangrenta que impeliu a seita contra os católicos. Finalmente, no ano 411 conseguiu-se a reunificação na Conferência de Cartago.

Marcelino

Foi um leigo enviado pelas autoridades imperiais para presidir a Conferência de Cartago em 411. O Imperador Honório o havia enviado para que sancionasse e decidisse quem tinha razão na Conferência, à qual assistiram donatistas e católicos a expor seus pontos de vista. Emitiu o juízo a favor dos católicos. Desde então teve uma importante relação com Agostinho, também participante na Conferência. Várias das obras antipelagianas de Agostinho foram escritas para Marcelino. E a ele estão dedicados os primeiros livros de De Civitate Dei. No ano de 413 Marcelino foi decapitado com seu irmão, ambos acusados de participar de uma revolução.

Horósio

Nascido na cidade hoje portuguesa de Braga, entre o ano de 375 e 380, conheceu Agostinho em 414, quando viaja até Hipona desejando estudar com ele e viver em sua comunidade. Agostinho o enviou a Jerusalém para que estudasse com São Jerônimo e lhe pediu que escrevesse uma História Universal que hoje se conserva.

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