As missões, projetos sociais e ações solidárias são uma constante na ação da Família Agostiniana Recoleta. A Província de São Nicolau de Tolentino sempre viveu em missão, desde seu nascimento motivado pela abertura das primeiras missões de evangelização nas Filipinas no século XVII. Desde então, tem exercido sua atividade evangelizadora seguindo o mandato de Jesus nos lugares hoje chamados de “fronteira”: ali onde é necessário defender a dignidade da vida humana, a justiça social, a igualdade de oportunidades, a defesa dos mais vulneráveis.

O conceito de missão tem sido rodeado de feitos heroicos, implicações políticas e sociais, justificações mais ou menos acertadas e próximas ao seu sentido original e inclusive de certa confusão conceitual dentro da Igreja.

A palavra “missão” se generalizou nos séculos XVI e XVII para designar os “esforços a favor dos não batizados” e com vistas à chamada “implantação da Igreja” entre os não cristãos. Anteriormente se designaram esses fatos como “apostolado”, “propagação da fé” ou “propagação da saúde”.

O caráter proselitista do “missionário” surgiu no período expansivo dos descobrimentos, quando a única religião era um dos pilares do Estado e salvaguarda da unidade dos Impérios. Mas, o sentido originário da “missão” ignorava essa conotação quase agressiva: “missão” ou “envio” indicava mais bem a “chegada de amor de Deus aos homens”.

Com a palavra “missão” se tem designado também alguns dos conceitos mais íntimos da fé cristã. Assim, na concepção de Deus como uma Trindade de pessoas, o intercâmbio recíproco de amor e conhecimento entre Pai, Filho e Espírito Santo se chamava “missão” (“envio”). E este modo de ser interior de Deus se transformava em “missão” exterior na criação (Pai), a redenção (Filho) e a contínua assistência e inspiração ao cristão (Espírito Santo).

A “missão” é, antes de tudo, a expressão do amor de Deus manifestada como vontade de salvação para toda pessoa em todos os tempos. A motivação da Igreja missionária não obedece a um fato pastoral, proselitista, muito menos político. É algo constitutivo da própria Igreja, está em sua genética, transmitida por gerações de cristãos. Esta motivação não é outra que o amor de Deus à humanidade, e especialmente aos que menos tem em bens materiais, em esperanças, em poder.

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Os missionários católicos não são agentes proselitistas, representantes de uma multinacional, nem pessoas que desejam a todo custo fazer do não crente um membro de sua Igreja. Anunciam a Cristo como libertação, onde for mais necessário, onde há ausência dos bens messiânicos, onde há medo, violência, desgraça, conflitos, miséria, fome, amargura, exílio, mortalidade infantil, abuso, exploração. Não se trata de um “cometido exterior” da Igreja, mas seu fundamento existencial.

Por isso não é a Igreja quem decide a missão, mas é a própria missão que define o lugar onde a Igreja deve estar presente: onde falta o anúncio de Cristo, onde se carece de esperança e de paz, onde falta Deus.

O destinatário da missão é toda pessoa e lugar onde se deva levar a mensagem contrastante da ressurreição de Cristo e a redenção do ser humano. O mundo mostra onde deve haver um cristão anunciando que Cristo vive.

A abordagem do missionário com esse mundo não está carregada de formas arrogantes, ditatoriais ou impositivas. O modelo é Jesus de Nazaré, que entrega sua vida pelos outros e, sendo Deus, se faz homem para estar com os que sofrem.

O missionário cristão não é o possuidor da Verdade ou de uma técnica de desenvolvimento, mas um “sacramento”, um “Cristo” no meio dos que necessitam esperanças e que, como Cristo, se esvazia de si mesmo, se liberta dos seus prejuízos e até de sua raiz cultural, lingüística ou social; não para pregar a si mesmo, a sua cultura, a sua civilização ou a sua forma religiosa, mas a Cristo.

Missão não é o lugar onde a fé cristã é uma minoria, ou onde a Igreja carece de estruturas. Este conceito geográfico está superado, devido a vários fatores, dentre eles, porque o peso sócio-demográfico do catolicismo variou muito, porque muitas Igrejas sem estruturas organizativas estão muito mais vivas e são muito mais dinâmicas que estruturas eclesiais com séculos de história. A globalização também veio mudar o significado geográfico de missão.

Missão, em seu sentido original e em seu conceito atual, é buscar os lugares onde se faz mais necessário anunciar a Cristo, onde as desigualdades e a falta de ética política ou econômica levaram muitas pessoas uma condição de apenas sobreviver; a espaços de ação como os imigrantes, pessoas com dependência química, desempregados sem esperança, meninas que sofrem abusos e exploração, enfermos que não tem quem os acompanhe ou à sociedade rica que adoece de valores e na qual a dignidade se perde entre o mercantilismo e o consumismo. Missão é tudo isso e muito mais.

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