No ano de 2019 se publicou o Ideário Agostiniano Recoleto de Pastoral Ministerial, um guia para a tarefa evangelizadora e uma expressão do processo de revitalização em que a Ordem está imersa. O agostiniano recoleto José Alberto Moreno nos aproxima deste documento.
O Prior Geral da Ordem dos Agostinianos Recoletos, Miguel Miró, indica na apresentação do Ideário Agostiniano Recoleto da Pastoral Ministerial que se trata de um simples documento que pretende ser prático. Aponta os desafios e prioridades pastorais que nós, como agostinianos recoletos temos, de modo que sejamos criadores de comunhão na Igreja e no mundo.
É, portanto, um Ideário: não pretende ser um projeto pastoral estruturado, mas um conjunto de ideias e propostas tiradas do magistério do Papa Francisco (especialmente da Evangelii Gaudium) e da espiritualidade agostiniana recoleta (Constituições), úteis na urgente tarefa de evangelização do mundo de hoje.
A razão desta escolha é plausível: seria pretensioso, descontextualizado e pouco operativo elaborar um projeto de pastoral agostiniana recoleta para toda a Ordem, ou para uma Província, ou mesmo para um ministério. Isto se torna inviável pela própria natureza do ministério pastoral, de toda pastoral diocesana.
Assim, mesmo que possa haver projetos por objetivos ou ideários, se não quiserem perder o sentido da realidade, devem se referir a um ministério pastoral funcional, que ajude a responder às necessidades daquela parte completa da Igreja que chamamos diocese: ao aqui e agora da Igreja local.
Apesar de uma certa autonomia das famílias religiosas em relação à Igreja local, ninguém evangeliza em seu próprio nome, mas em nome da Igreja, inserida dentro de uma pastoral orgânica de caráter diocesano.
Nem mesmo as novas tecnologias seriam um canal de evangelização fora das estruturas e critérios da Igreja.
O Ideário Agostiniano Recoleto de Pastoral —com bom senso — apresenta a abordagem mais importante do Papa Francisco para a evangelização, a conversão pastoral: abandonar toda a pastoral de manutenção; desburocratizar as paróquias; devolver aos leigos o protagonismo; fazer das comunidades eclesiais lugares de acolhimento fraterno; concentrar-se na transmissão de Cristo; ser “Igreja em saída”; comprometer-se com os valores do Reino, aliviar os sofrimentos dos empobrecidos e promover a dignidade humana e a justiça social; cuidar da “casa comum” a partir de uma ecologia integral…
O Ideário nos pede que evangelizemos a partir da identidade carismática agostiniana recoleta, conscientes da riqueza desta vocação específica e do quanto ela pode contribuir para a evangelização. Passado, presente e futuro da Recoleção deve enriquecer a transmissão da fé: uma herança espiritual que devemos conhecer e compartilhar; um presente que podemos tornar fecundo sendo homens de comunhão e oração, solidários diante do sofrimento; uma ação pastoral que traga esperança à sociedade e à Igreja.
A terceira parte do Itinerário, prioridades pastorais, mais concreta e propositiva, articula-se em torno de três sólidos fundamentos teológicos: cristológico, eclesiológico e profético. De cada uma dessas três bases, são feitas sugestões de direções e orientações, não são objetivos ou metas de um projeto completo, mas uma espécie de livro de receitas a ser usado ao planejar as ações de projetos específicos.
O Ideário torna-se assim um bom aliado na elaboração do projeto pastoral de um determinado ministério com uma riqueza de sugestões que, muito provavelmente, estarão de acordo com algumas das prioridades do projeto diocesano e que enriquecerão as diferentes dimensões da ação eclesial (martyria, koinonia, liturgia e diaconia). As ações do projeto particular do ministério serão assim iluminadas pelo carisma agostiniano recoleto, gerando um valor agregado.
Concluo sublinhando a oportunidade que este breve documento nos oferece de estar em comunhão com a Igreja, com a Ordem, com os irmãos em comunidade e com os leigos. Devemos estudá-lo juntos e colocá-lo em prática! O Prior Geral diz: como nossos ministérios mudariam se o puséssemos em prática! Isso depende de cada um de nós.
Critérios pastorais à luz do Ideário Agostiniano Recoleto de Pastoral Ministerial
1. Paróquias evangelizadoras com base no querigma, a primeira proclamação do chamado à conversão através de um encontro pessoal com Cristo. As Oficinas de Oração Agostiniana ou as Salas de aula agostinianas podem ser espaços de convocação inicial, ou de Pré missão.
2. Promoção e animação de pequenas comunidades, espaços de experiência de Deus, de discipulado e de missão, com itinerários de formação integral, sistemática, processual e permanente. Garantem a iniciação ou reintegração cristã através da catequese; a maturação na fé; a descoberta de uma vocação específica; e o exercício dos carismas pessoais na Igreja e na sociedade.
3. Paróquias solidárias, não assistencialistas, mas transformadoras do contexto imediato (família, comunidade, bairro) e o contexto universal (emergências, missões, e projetos socioevangelizadores…).
4. Paróquias orientadoras para os jovens em sua busca existencial (encontrar a fé) e em seu crescimento (amadurecer na fé e na vida) com acompanhamento e discernimento. Ferramentas: Juventudes Agostinianas Recoletas (JAR), pastoral vocacional…
5. A proximidade como característica carismática agostiniana recoleta: assistência esmerada, acolhedora, empática.
6. Paróquia que escuta e apoia os mais vulneráveis, aqueles que vivem uma solidão não escolhida. Ferramenta: Centros de Espiritualidade Agostiniana Recoleta (CEAR) como um espaço de convivência comunitária.
7. Paróquia transparente no uso de todos os recursos para o serviço da tarefa evangelizadora e social. Trabalho em equipe e avaliação conjunta na comunidade religiosa e nos conselhos paroquiais.
8. Paróquia que cria comunhão, em contato, colaboração e coordenação com a diocese, comprometida com a Igreja local e sob sua supervisão.
9. Paróquia como uma comunidade humana segura e sensível para os mais vulneráveis, protetora das crianças e adolescentes, dos idosos e das pessoas com necessidades especiais.










