No apostolado ministerial dos agostinianos recoletos, a atitude agostiniana de assistência aos desprivilegiados e a prática de uma entrega total na caridade cristã é mantida a partir de um duplo aspecto: a solidariedade no nosso entorno sem esquecer o resto da humanidade.

“Doai, portanto, aos pobres. Eu vos suplico, vos aconselho, vos prescrevo, vos ordeno” (Santo Agostinho, Sermão 61, 13).

Agostinho de Hipona (354 – 430), aquele que é considerado por toda a Família Agostiniana como pai espiritual, dá conta do que significa para ele a atenção aos pobres. Sua interpelação aos fiéis de Hipona no sermão que citamos vai de uma petição a um mandamento.

O santo bispo entendeu muito bem que Deus não precisa de ouro ou pedras preciosas para sua adoração, mas de nossos bens dados aos pobres. Seu amigo Possídio descreve o compromisso de Agostinho com os mais vulneráveis desta forma:

“Quando os cofres da igreja estavam vazios, e faltavam-lhe os meios para ajudar os pobres, ele imediatamente dava a conhecer isso ao povo fiel. Ele mandava derreter os jarros sagrados para ajudar os cativos e a outros indigentes” (São Possídio, Vida de Santo Agostinho, 24).

No apostolado ministerial dos agostinianos recoletos esta mesma atitude agostiniana se mantém a partir de uma dupla perspectiva: a atenção à própria comunidade paroquial, ao entorno imediato; e a comunhão de bens e solidariedade que chega a toda a humanidade sem fronteiras nem limites.

Comunidades locais, comunidades de bens

Nas respostas dadas ao questionário em preparação ao próximo Capítulo Geral dos Agostinianos Recoletos (2022), as paróquias da Província de São Nicolau de Tolentino não somente relataram a atividade de Cáritas ou instituições equivalentes (como as generalizadas sociedades vicentinas), mas também outras diversas tarefas, sempre realizadas com criatividade e exemplaridade. A própria pandemia desencadeou uma série de ações originais.

Outra característica destas ações é a discrição. É difícil obter dados específicos, pois os beneficiários são mantidos fora dos olhos do público por respeito à sua dignidade e por causa da exigência evangélica: não deixe sua mão direita ver o que sua mão esquerda está fazendo.

O certo é que as paróquias em todo o mundo, incluindo as da Família Agostiniana Recoleta, atendem a centenas de pessoas em seu meio, sejam ou não frequentadores regulares da igreja, ou pertençam a uma religião diferente.

A lista é interminável: os sem-teto, migrantes, vítimas das novas formas de pobreza (pobreza energética, emprego precário, desempregados de longa duração), idosos em solidão não escolhida, jovens presos pela dependência, famílias monoparentais com crianças aos seus cuidados e sem recursos…

Seguindo o exemplo de Agostinho, toda a comunidade paroquial agostiniana recoleta faz parte desta solidariedade e os leigos administram, acolhem, lideram e agem.

Cáritas Paroquial é provavelmente o instrumento mais difundido. Seus projetos podem ser puramente locais, ou várias paróquias unindo forças em toda uma vizinhança, nacional ou internacional, tais como seus apelos de emergência.

Sua estrutura e sua ação, aplaudida e apreciada até mesmo pelos que mais desconfiam da Igreja, se baseia na atenção direta nos escritórios paroquiais, onde cada pessoa, cada família vulnerável, tem um arquivo, alguém disponível para escutar, um acompanhamento, um projeto de esperança para o futuro.

Como o Evangelho: sem fronteiras

Os agostinianos recoletos são missionários; e esta Província de São Nicolau de Tolentino está em missão há 400 anos. É por isso que em suas paróquias existe uma virtualidade: oferecer garantias para aqueles que querem cumprir sua responsabilidade evangélica de amor ao próximo em projetos que vão muito além do local imediato.

A paróquia agostiniana recoleta aproxima os que estão afastados para reconhecê-los como próximos por meio do conhecimento, com dados, com as experiências dos missionários, sabendo onde, para quê e para quem os recursos são concretamente destinados. Desta forma, as paróquias da província estão ligadas a projetos de desenvolvimento em todo o mundo:

  • O Lar Santa Mônica em Fortaleza (Brasil) acolhe meninas e adolescentes que sofreram violência, abuso ou abandono. Três paróquias na Espanha e duas no México o apoiam.
  • O Centro Psicossocial Santo Agostinho defende as famílias vulneráveis em Fortaleza, Brasil. É apoiado por paróquias na Espanha (2), Inglaterra (1) e México (1).
  • O projeto de habitação social Lar digno em Guaraciaba (Brasil) é apoiado por paróquias na Espanha (2), México (1) e Inglaterra (1).
  • Os Centros Esperança na Amazônia brasileira são espaços de prevenção e educação para adolescentes (12–17 anos). Existem três, apoiados por três escolas e seis paróquias na Espanha.
  • Lagoa Negra é um barco hospital na Amazônia com agentes de saúde voluntários do sul do Brasil. Recebe recursos de paróquias nos Estados Unidos (2) e na Inglaterra (2).
  • Terra Solidária em Lábrea (Brasil) desenvolve ações de habitação, água e saneamento. Recebe recursos de paróquias nos Estados Unidos (2), Espanha (1), México (1) e Costa Rica (1).
  • O apoio à população rural das comunidades ao longo do rio Purus na Amazônia (Brasil) conta com a solidariedade das paróquias nos Estados Unidos (2), Espanha (1), Brasil (1) e México (1).
  • Paróquias nos Estados Unidos (2), Espanha (1), México (1), e Costa Rica (1) colaboram no apoio de várias CEBs (página 6) em Pauini (Amazonas, Brasil).
  • Ciudad de los Niños, um centro socioeducativo para estudantes vulneráveis na Costa Rica, recebe recursos de quatro paróquias nos Estados Unidos, Espanha, Inglaterra e Costa Rica, respectivamente.
  • CARDI (Centro de Acompanhamento e Recuperação de Desenvolvimento Integral), um projeto sociossanitário na Cidade do México, recebe apoio de uma paróquia nos Estados Unidos e campanhas regulares e voluntários das paróquias e das Juventudes Agostinianas Recoletas (JAR) no México.

Espaço de encontro para a solidariedade

A Rede Solidária Internacional Agostiniana Recoleta ARCORES nos permite chegar longe. Sua campanha Coração Solidário trouxe recursos para países como Argentina, Brasil, Colômbia, Cuba, Filipinas, Peru, República Dominicana, Serra Leoa e Venezuela.

Muitas paróquias se juntam a campanhas internacionais diante de catástrofes, emergências, migrações, deslocamentos em massa, guerras, fome, perseguições… a Igreja nunca deixa de estar na vanguarda com sua resposta rápida e generosa.

Finalmente, há a colaboração pessoal. Através das paróquias, pessoas com sensibilidade especial têm contribuído com seu tempo e conhecimento. O voluntariado, por sua vez, cria um vínculo especial com o lugar e o projeto em que se colabora.